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A Primeira Geração Siqueira Bueno

A família Siqueira Bueno, que foi conhecida pela participação política em São Paulo e Guarulhos no século XIX, teve a sua primeira geração, com este sobrenome, formada no final do século XVIII, na união dos descendentes dos Bueno da Ribeira com Siqueira Mendonça, na freguesia de Conceição dos Guarulhos. Mas seria muito simples identificar o momento exato que ocorreu a cola destes sobrenomes, sem avaliar a riqueza de parentescos que constroem o contexto histórico e sua bagagem emotiva e cultural. Isso sem dizer sobre a abertura de um leque fantástico de pessoas interessantíssimas que não tinham relação sanguínea, mas que foram contemporâneas e não menos importantes para este período, no Estado de São Paulo.

 

Aldeia dos Guarulhos

É evidente que o objetivo nesta crônica é demonstrar a primeira geração que carrega este sobrenome, mas não podemos deixar de voltar quase 200 anos antes do encontro familiar para mencionar o que acontecia para os “lados de Mogi”, “perto da Aldeia dos Índios” e ” rio acima de Taquaquecetiba, no termo da Vila de Santa Ana da outra banda do Anhembi”. Estas eram algumas referências à região da Aldeia dos Guarus ou Guarulhos, que viria a ser conhecido por séculos como Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos e aparecem na documentação de pedidos de doação de terras pelas cartas de Sesmarias, feitos pelos que se diziam conquistadores ou povoadores. Estes pedidos de terras eram seguidos de obrigações, mas a principal era de povoar uma terra virgem.

Desde as 1534, com a criação das Capitanias Hereditárias, o Rei de Portugal atribuía Sesmarias aos beneficiários colonizadores, mas foi na primeira metade do século XVII que cresceu o interesse pela região das “cabeceiras da aldeia de Guarulhos, na paragem de Ibitiratim, correndo sertão a dentro até o Juqueri”.

Além de ser uma região rica em mata e terra cultivável, era porta de entrada para a vila de São Paulo através do Rio Anhembi (antigo nome do Rio Tietê) e a porta de saída para o sertão, através de Juqueri (hoje Mairiporã). Não bastasse estes predicados, foi encontrado vestígios de ouro na região. Fica claro o motivo do interesse e o porquê da maioria das famílias que constam na lista de beneficiários terem sido aquelas de títulos ou destaques como Bandeirantes, Capitães, Guarda-Mor e outros.

Reprodução do trecho de documento de Sesmarias que citam Bartolomeu Bueno e seu filho, Amador Bueno, o Aclamado:

56) Bartolomeu Bueno – 1611 – alegou estar na Capitania há 30 anos, carregado de filhos. Pediu 1 legoa junto a Marialves, perto da Aldeia dos Índios.

57) Amador Bueno – 18-3-1611 – casado com filhos, pede terras junto a Marialves em São Miguel, para as bandas de Mogi.

*Marialves: Maria Álvares, em 1609 tinha meia légua na região de São Miguel.

 

Na 5ª geração destes colonizadores surgem a Matriarca e o Patriarca da família Siqueira Bueno.

 

O Patriarca

O Guarda-Mor Antonio Bueno da Silveira era um paulista descendente de gerações de Bandeirantes. Na sua linhagem, apontam dois ramos, um pelo lado de seu pai (Francisco Xavier Bueno da Silveira) e outro da sua mãe (Gertrudes Maria de Moraes) ligando a família Cunha Gago, incluindo o Bandeirante Henrique da Cunha Gago. Ainda pelo lado de seu pai, aparecem Raposos, incluindo um Antonio Raposo, que apesar de não ter ligação de sangue com o famoso Bandeirante Antonio Raposo Tavares, participou em uma das bandeiras do seu homônimo mais conhecido. Jeronimo da Veiga, outro importante sertanista do século XVII, era ascendência direta de Bueno da Silveira.

 


 

Apesar de todos os nomes e sobrenomes de colonizadores que formavam as gerações anteriores, foi o sobrenome Bueno que prevaleceu, devido à importância política, histórica e econômica de Amador Bueno da Ribeira e das suas gerações, muitos também Bandeirantes.

 

A Matriarca

Anna Joaquina de Siqueira, matriarca dos Siqueira Bueno, descendia dos Siqueira Mendonça pelo lado se seu pai. Pelo lado da mãe, mais especificamente através da sua avó, trazia a mesma ascendência do marido, incluindo Cunha Gago, da Veiga e Bueno da Ribeira.


 

O modo de vida de Anna Joaquina e Antonio ainda pode ser vista e imaginada através da sede da fazenda Bananal, que Antonio ergueu em Guarulhos, e que por um de seus herdeiros ganhou o nome de Casa da Candinha. Infelizmente, devido à má conservação, esta construção está em sério risco de desaparecer.

Nota-se em suas genealogias que este casal tinha uma linhagem histórica que trazia consigo todo o respeito e admiração de seus contemporâneos, mas só o parentesco não representaria a relevância que a família teve. O fator econômico e político teve grande peso.

 

De Siqueira Bueno

Como mencionado no contexto da região, os Siqueira Bueno nascem herdeiros de gerações de proprietários de terras. Amador Bueno (o Aclamado), a família Siqueira, através de Manoel de Siqueira e Francisco Bicudo de Siqueira, João Raposo, além de outros bandeirantes do século XVII, acumularam áreas pelas cartas de Sesmarias desde a região de Santana até Arujá, cobrindo onde hoje é Penha de França e São Miguel até Mairiporã, na Cantareira. Com Antonio e Anna tendo parentes em comum garantiram o acúmulo das propriedades, que incluíam as fazendas Bananal, Invernada, Bom Sucesso e Cumbica. Talvez uma grande e única propriedade, mas que nas décadas seguintes foram se dividindo em heranças e negociações.

Estava formada a base econômica e a fama histórica de seus ascendentes, mas foi com seus filhos, os primeiros de sobrenome “de Siqueira Bueno”, e com seus netos que a vieram os impactos políticos. Esta geração foi formada por:

José Custodio de Siqueira Bueno, foi Cônego da Sé e trabalhou na construção da igreja de São Pedro dos Clérigos

Gertrudes de Siqueira Bueno, proprietária de terras (parte da fazenda Bananal e Invernada), mãe de Antonio José de Siqueira Bueno e Vicente Ferreira de Siqueira Bueno que foram delegados, vereadores e Intendentes de Guarulhos no início da República.

Bonifácio de Siqueira Bueno, foi proprietário de terras, feitor da paróquia de Bom Sucesso e recebeu autorização para ser professor na vila de Conceição de Guarulhos. Pai de João Álvares de Siqueira Bueno, advogado e vereador em São Paulo, influenciador da emancipação de Guarulhos.

Bento Alvares de Siqueira Bueno, pai de José Alves de Cerqueira Cesar, Presidente do Estado de São Paulo em 1891, mais conhecido apenas como Cerqueira Cesar, homenageado com um Bairro na capital paulista e com o nome do município de Cerqueira Cesar, no interior do Estado de São Paulo.

Os outros filhos, com pouca informação disponível: Francisco de Siqueira Bueno (falecido no 2o ano de direito), Josepha e Vicente.

 

Esta geração não era formada apenas por parentes, mas por pessoas que conviveram com filhos e netos de Antonio e Anna. Conselheiro Crispiniano, Capitão Rabelo, Abílio Soares e muito outros foram tão ou mais relevantes no século XIX, portanto, Siqueira Bueno passa a ser apenas um norte para desvendarmos uma série de personagens que nos contam muito do nosso passado e da complexa relação humana.

Estes atores que orbitaram os Siqueira Bueno (e muitos que foram orbitados por esta família) terão espaço em futuras crônicas.


Em tempo:

Sobrenomes são apenas um dos indicadores de uma família, como citado neste artigo. O exemplo disso é que, devido às centenas ou milhares de paulistas com ascendência em Siqueira, Bueno e outros nomes de família, não deve ser raro encontrar cruzamentos, mas que não necessariamente indicam uma mesma origem. Como curiosidade, no ótimo trabalho de Silva Leme, Genealogia Paulistana, a primeira pessoa com sobrenome Siqueira Bueno, mesmo sendo descendente de Amador Bueno, não tinha relação direta com a família de Guarulhos:

Amador Bueno de Ribeira, capitão-mór e ouvidor da capitania de S. Vicente (...). Foi casado com Bernarda Luiz f.ª de Domingos Luiz (o Carvoeiro), cavaleiro professo da ordem de Cristo e de Anna Camacho, à pág. 81 deste. Teve:

·         1-8 Marianna Bueno, f.ª do Cap. 1.º, foi casada com Sebastião Preto Moreira, natural de S. Paulo, onde ocupou os cargos do governo, e faleceu em 1696, sendo sua mulher falecida em1687, f.º de Innocencio Preto, natural de Portugal, que foi ouvidor da capitania de S. Vicente, e de Maria Moreira. Tit. Pretos. Teve 4 f.ºs.:

o   2-3 Anna de Ribeira da Luz, † em 1741, f.ª de Sebastião Preto Moreira, foi casada com o capitão Francisco Cubas de Mendonça, falecido em 1718, f.º de Gaspar Cubas Ferreira e de Margarida Rodrigues de Siqueira. Tit. Cubas. Teve os 8 f.ºs.:

§  3-2 Francisco Cubas Bueno, falecido em 1749, foi casado com Anna Maria da Silveira e Camargo f.ª do capitão Francisco de Camargo Pimentel e de Izabel da Silveira Cardoso, à pág. 368. Teve 4 f.ºs.:

·         4-1 Maria Ribeira de Camargo casada em 1775 em Atibaia com Antonio de Siqueira e Camargo f.º de José de Camargo de Siqueira e de Domingas Franco de Brito. Tit. Siqueiras Mendonças Cap. 1.º § 2.º, 2-1, 3-2. Teve q. d.:

o   5-1 Maria de Siqueira Bueno casada em 1791 em Atibaia com Antonio Bueno Franco f.º de Domingos Franco Bueno de Escholastica Ortiz de Camargo, à pág. 444 deste.

 

 

 

 





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