Aldeia dos Guarulhos
É evidente que o objetivo nesta crônica é demonstrar a primeira
geração que carrega este sobrenome, mas não podemos deixar de voltar quase 200
anos antes do encontro familiar para mencionar o que acontecia para os “lados
de Mogi”, “perto da Aldeia dos Índios” e ” rio acima de
Taquaquecetiba, no termo da Vila de Santa Ana da outra banda do Anhembi”. Estas
eram algumas referências à região da Aldeia dos Guarus ou Guarulhos, que viria
a ser conhecido por séculos como Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos e
aparecem na documentação de pedidos de doação de terras pelas cartas de Sesmarias,
feitos pelos que se diziam conquistadores ou povoadores. Estes pedidos de
terras eram seguidos de obrigações, mas a principal era de povoar uma terra
virgem.
Desde as 1534, com a criação das Capitanias Hereditárias, o
Rei de Portugal atribuía Sesmarias aos beneficiários colonizadores, mas foi na primeira
metade do século XVII que cresceu o interesse pela região das “cabeceiras da
aldeia de Guarulhos, na paragem de Ibitiratim, correndo sertão a dentro até o
Juqueri”.
Além de ser uma região rica em mata e terra cultivável, era
porta de entrada para a vila de São Paulo através do Rio Anhembi (antigo nome
do Rio Tietê) e a porta de saída para o sertão, através de Juqueri (hoje Mairiporã).
Não bastasse estes predicados, foi encontrado vestígios de ouro na região. Fica
claro o motivo do interesse e o porquê da maioria das famílias que constam na
lista de beneficiários terem sido aquelas de títulos ou destaques como
Bandeirantes, Capitães, Guarda-Mor e outros.
Reprodução do trecho de documento de Sesmarias que citam Bartolomeu
Bueno e seu filho, Amador Bueno, o Aclamado:
56) Bartolomeu Bueno – 1611 – alegou estar na Capitania há 30
anos, carregado de filhos. Pediu 1 legoa junto a Marialves, perto da Aldeia dos
Índios.
57) Amador Bueno – 18-3-1611 – casado com filhos, pede terras
junto a Marialves em São Miguel, para as bandas de Mogi.
*Marialves: Maria Álvares, em 1609 tinha meia légua na região
de São Miguel.
Na 5ª geração destes colonizadores surgem a Matriarca e o Patriarca
da família Siqueira Bueno.
O Patriarca
O Guarda-Mor Antonio Bueno da Silveira era um paulista
descendente de gerações de Bandeirantes. Na sua linhagem, apontam dois ramos, um
pelo lado de seu pai (Francisco Xavier Bueno da Silveira) e outro da sua mãe (Gertrudes
Maria de Moraes) ligando a família Cunha Gago, incluindo o Bandeirante Henrique
da Cunha Gago. Ainda pelo lado de seu pai, aparecem Raposos, incluindo um
Antonio Raposo, que apesar de não ter ligação de sangue com o famoso
Bandeirante Antonio Raposo Tavares, participou em uma das bandeiras do seu homônimo
mais conhecido. Jeronimo da Veiga, outro importante sertanista do século XVII, era
ascendência direta de Bueno da Silveira.
Apesar de todos os nomes e sobrenomes de colonizadores que
formavam as gerações anteriores, foi o sobrenome Bueno que prevaleceu, devido à
importância política, histórica e econômica de Amador Bueno da Ribeira e das
suas gerações, muitos também Bandeirantes.
A Matriarca
Anna Joaquina de Siqueira, matriarca dos Siqueira Bueno, descendia
dos Siqueira Mendonça pelo lado se seu pai. Pelo lado da mãe, mais
especificamente através da sua avó, trazia a mesma ascendência do marido, incluindo
Cunha Gago, da Veiga e Bueno da Ribeira.
O modo de vida de Anna Joaquina e Antonio ainda pode ser vista
e imaginada através da sede da fazenda Bananal, que Antonio ergueu em Guarulhos,
e que por um de seus herdeiros ganhou o nome de Casa da Candinha. Infelizmente,
devido à má conservação, esta construção está em sério risco de desaparecer.
Nota-se em suas genealogias que este casal tinha uma
linhagem histórica que trazia consigo todo o respeito e admiração de seus contemporâneos,
mas só o parentesco não representaria a relevância que a família teve. O fator econômico
e político teve grande peso.
De Siqueira Bueno
Como mencionado no contexto da região, os Siqueira Bueno
nascem herdeiros de gerações de proprietários de terras. Amador Bueno (o
Aclamado), a família Siqueira, através de Manoel de Siqueira e Francisco Bicudo
de Siqueira, João Raposo, além de outros bandeirantes do século XVII, acumularam
áreas pelas cartas de Sesmarias desde a região de Santana até Arujá, cobrindo onde
hoje é Penha de França e São Miguel até Mairiporã, na Cantareira. Com Antonio e
Anna tendo parentes em comum garantiram o acúmulo das propriedades, que incluíam
as fazendas Bananal, Invernada, Bom Sucesso e Cumbica. Talvez uma grande e
única propriedade, mas que nas décadas seguintes foram se dividindo em heranças
e negociações.
Estava formada a base econômica e a fama histórica de seus
ascendentes, mas foi com seus filhos, os primeiros de sobrenome “de Siqueira
Bueno”, e com seus netos que a vieram os impactos políticos. Esta geração foi
formada por:
José Custodio de Siqueira Bueno,
foi Cônego da Sé e trabalhou na construção da igreja de São Pedro dos Clérigos
Gertrudes de Siqueira Bueno, proprietária
de terras (parte da fazenda Bananal e Invernada), mãe de Antonio José de
Siqueira Bueno e Vicente Ferreira de Siqueira Bueno que foram delegados, vereadores
e Intendentes de Guarulhos no início da República.
Bonifácio de Siqueira Bueno, foi proprietário
de terras, feitor da paróquia de Bom Sucesso e recebeu autorização para ser
professor na vila de Conceição de Guarulhos. Pai de João Álvares de Siqueira
Bueno, advogado e vereador em São Paulo, influenciador da emancipação de
Guarulhos.
Bento Alvares de Siqueira Bueno, pai
de José Alves de Cerqueira Cesar, Presidente do Estado de São Paulo em 1891, mais
conhecido apenas como Cerqueira Cesar, homenageado com um Bairro na capital
paulista e com o nome do município de Cerqueira Cesar, no interior do Estado de
São Paulo.
Os outros filhos, com pouca informação
disponível: Francisco de Siqueira Bueno (falecido no 2o ano de direito), Josepha
e Vicente.
Esta geração não era formada apenas por parentes, mas por pessoas
que conviveram com filhos e netos de Antonio e Anna. Conselheiro Crispiniano,
Capitão Rabelo, Abílio Soares e muito outros foram tão ou mais relevantes no
século XIX, portanto, Siqueira Bueno passa a ser apenas um norte para desvendarmos
uma série de personagens que nos contam muito do nosso passado e da complexa relação
humana.
Estes atores que orbitaram os Siqueira Bueno (e muitos que
foram orbitados por esta família) terão espaço em futuras crônicas.
Em tempo:
Sobrenomes são apenas um dos indicadores de uma família,
como citado neste artigo. O exemplo disso é que, devido às centenas ou milhares
de paulistas com ascendência em Siqueira, Bueno e outros nomes de família, não deve
ser raro encontrar cruzamentos, mas que não necessariamente indicam uma mesma origem.
Como curiosidade, no ótimo trabalho de Silva Leme, Genealogia Paulistana, a
primeira pessoa com sobrenome Siqueira Bueno, mesmo sendo descendente de Amador
Bueno, não tinha relação direta com a família de Guarulhos:
Amador Bueno de Ribeira,
capitão-mór e ouvidor da capitania de S. Vicente (...). Foi casado com Bernarda
Luiz f.ª de Domingos Luiz (o Carvoeiro), cavaleiro professo da ordem de Cristo
e de Anna Camacho, à pág. 81 deste. Teve:
·
1-8 Marianna Bueno, f.ª do Cap. 1.º, foi casada
com Sebastião Preto Moreira, natural de S. Paulo, onde ocupou os cargos do
governo, e faleceu em 1696, sendo sua mulher falecida em1687, f.º de Innocencio
Preto, natural de Portugal, que foi ouvidor da capitania de S. Vicente, e de
Maria Moreira. Tit. Pretos. Teve 4 f.ºs.:
o
2-3 Anna de Ribeira da Luz, † em 1741, f.ª de
Sebastião Preto Moreira, foi casada com o capitão Francisco Cubas de Mendonça,
falecido em 1718, f.º de Gaspar Cubas Ferreira e de Margarida Rodrigues de
Siqueira. Tit. Cubas. Teve os 8 f.ºs.:
§
3-2 Francisco Cubas Bueno, falecido em 1749, foi
casado com Anna Maria da Silveira e Camargo f.ª do capitão Francisco de Camargo
Pimentel e de Izabel da Silveira Cardoso, à pág. 368. Teve 4 f.ºs.:
·
4-1 Maria Ribeira de Camargo casada em 1775 em
Atibaia com Antonio de Siqueira e Camargo f.º de José de Camargo de Siqueira e
de Domingas Franco de Brito. Tit. Siqueiras Mendonças Cap. 1.º § 2.º, 2-1, 3-2.
Teve q. d.:
o
5-1 Maria de Siqueira Bueno casada em 1791 em Atibaia com
Antonio Bueno Franco f.º de Domingos Franco Bueno de Escholastica Ortiz de
Camargo, à pág. 444 deste.
Comentários
Postar um comentário