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Siqueira Bueno - Breve Introdução

Para que escrever a história das origens de um sobrenome? Para quem isso pode interessar? Como contar uma história sobre origens, nascimentos, conflitos familiares que diretamente só dizem respeitos à alguns curiosos descendentes? 

Pois é. Sempre me pergunto sobre estas questões quando dedico algumas horas pesquisando a história dos Siqueira Bueno e das pessoas incríveis que rodearam estes paulistas. Cerqueira Cesar, Conselheiro Crispiniano, Edu Chaves, Coronel Rabelo, Abílio Soares e tantos outros, que hoje são lembrados penas pelas ruas, terminais, escolas, bairros que têm seus nomes.  

Não me debrucei sobre esta pesquisa sempre com o mesmo empenho. As vezes dedico mais ou menos energia, mas diferente de uma atividade sofrida e desgastante, este é um hobby para quando me sobra um pouco de tempo. Um exercício de estudo e investigação. Muita leitura e uma constante sensação de dúvida sobre vários acontecimentos, que atiça a curiosidade e mantem este um trabalho sem fim. Ainda bem. 

E, de repente, a curiosidade por saber sobre origens e personagens, contadas pelos mais velhos, deu espaço para uma outra paixão: o estudo de História, e não aquela ufanista e repleta de "novas verdades" e "fake news" (típica dos curiosos, mas com muita carga ideológica), mas uma releitura repleta de referências aos jornais da época ou outras bibliografias e com muitas dúvidas, para que este trabalho não "lacre" a discussão. 

Ainda, a partir do nome de uma família, abre-se um mundo de informações sobre Portugal, Espanha, os índios do Brasil e sua língua, as cidades de São Paulo, de Atibaia, de Guarulhos e como, através dos bandeirantes (heróis ou anti-heróis), Buenos e Siqueiras (e Camargo, Pires, Tavares, Dias, Gago, Leme...) ajudaram a formar nosso país. 

Volto às minhas perguntas do primeiro paragrafo. Não tenho aqui nenhuma pretenção de atingir um grande número de leitores, nem ganhar dinheiro com esta pesquisa, mas espero que para os poucos leitores, algumas das minhas pesquisas sejam validas, instigantes e provocadoras. Se em alguns deles aparecer a vontade de se aprofundar e quem sabe contribuir com esta pesquisa, será uma tremenda alegria.  

Primeiro artigo 


Faz uns 15 anos que eu escrevi algumas linhas sobre os Siqueira Bueno no Wikipédia. Depois de muitos anos e a leitura de vários jornais, livros e artigos, noto que o texto está defasado e cheio de imprecisões. Vou exercitar aqui uma revisada neste texto, dentro de um resumo, que vou ajustando e complementando ao longo do tempo. 

Famílias "de Siqueira" e "Bueno": Resumo 


Siqueira Bueno (ou no modo mais correto e tradicional “de” Siqueira Bueno) é o nome de uma família brasileira, formada em São Paulo, mas com ascendencia Ibérica. Tem origem nos Buenos da Ribeira, com destaque para Amador Bueno da Ribeira, o Aclamado e os irmãos Francisco Nunes de Siqueira e Sebastião Bicudo de Siqueira.  

Buenos e Siqueiras tiveram grande participação política no Estado de São Paulo e partindo da capital, sairam para explorar o sertão, liderando ou como membro de Bandeiras, a partir do século XVI.  

A união destas duas tradicionais famílias paulistanas, entre os séculos XVIII e XIX, aconteceu na antiga aldeia de "Nossa Senhora da Conceição de Guarus (ou Guarulhos)", que depois se tornaria a cidade de Guarulhos. Como descendentes dos antigos donos de sesmarias, os Siqueira Bueno possuíam grande quantidade de terras que se estendiam em uma vasta região no lado leste da capital, entre Penha, São Miguel, Mogi e Mairiporã. A mais famosa gleba da família Siqueira Bueno foi a Fazenda Cumbica, onde é hoje a Base Aérea de São Paulo, o Aeroporto Internacional e a Cidade Satélite Industrial de Cumbica. (RANALI, João. Repaginando a História: Guarulhos. São Paulo: Soge, 2002.)  

Voltando ao vínculo com os paulistas de título Buenos da Ribeira, aqueles que tem esta ascendência estão entre as 9ª e 12ª gerações de Bartholomeu Bueno da Ribeira, o Sevilhano, pai de Amador Bueno, o Aclamado. Eles dividiam as forças políticas da vila de São Paulo entre os Camargos e Pires. Estas três famílias representam importantes linhagens históricas das bandeiras paulistas, segundo o autor Roberto Pompeu de Toledo, no livro "A Capital da Solidão".  

Buenos e Camargos se encontram em vários momentos, mas talvez o mais importante com Bartolomeu Bueno, o Moço, que foi proprietário de fazendas na região de Parnaíba e no sertão de Atibaia, onde deixou geração do seu casamento com Mariana de Camargo, filha de Jusepe de Ortiz Camargo e de Leonor Domingues, irmã do Capitão Fernando de Camargo, o Tigre, chefe do partido dos Camargos contra os Pires, em uma sangrenta guerra de quase 20 anos entre estas duas famílias. Alguns autores apontam este conflito como um dos aceleradores para a formação da cidade de Atibaia, onde Siqueira Buenos foram participantes.  

Primeiro Bandeirante de sobrenome Bueno 


Foram vários os Bandeirantes com o sobrenome Bueno, mas possivelmente o primeiro deve ter sido Bartolomeu Bueno, o Moço, irmão de Amador Bueno da Ribeira, o Aclamado e de Francisco Bueno, bandeirante que serviu cargos da república em São Paulo e em 1628 seguiu para a região do Guairá na bandeira de Antônio Raposo Tavares. Era filho de Bartolomeu Bueno, o Sevilhano.  

Ilustre Siqueira Bueno: João Bueno 


Nascido na Aldeia de Nossa Senhora da Conceição, João Álvares de Siqueira Bueno (conhecido como João Bueno), no final do século XIX foi, deputado provincial e grande influenciador da regulamentação de terras no Estado de São Paulo, trabalhando fortemente na emancipação de Guarulhos. Seu trabalho e a história da família Siqueira Bueno estão tão ligados a esta cidade que rendeu a citação no hino do município: Tuas praças são livros abertos, / Onde lemos futuro e glória. / Crispiniano e Bueno fulguram / como vultos eternos na História.  

João Álvares de Siqueira Bueno, além de dar nome à escolas na cidade de Guarulhos, foi homenageado na rua Siqueira Bueno, que junto com as ruas Fernando Falcão e Rua do Oratório formam o limite leste do bairro da Mooca. 

Para conhecer um pouco mais 

Já notei descendentes de Buenos com 3 diferentes origens (pode haver outros). Itália, Ilhas Canárias e Sevilha, na Espanha. Meus estudos se concentraram nesta última. Tenho lidos alguns autores, como João Ranali, e jornais, como o Correio Paulistano, mas comecei a pesquisa no belo trabalho de Silva Leme, Genealogia Paulistana, que recomendo: 
Silva Leme descreve esta parte da Família Siqueira Bueno no Vol III-Pág. 183 a 228 de sua Genealogia Paulistana: Maria Bueno da Conceição casou-se em 1767 em S. Paulo com o capitão Antonio Alves de Siqueira f.º de Antonio Alvares de Siqueira Bittencourt e de Catharina Bicudo de Siqueira. Tit. Siqueiras Mendonças. Com geração. Foram avós maternos do capitão-mor Francisco Alvares Machado, e também bisavós dos doutores João Alvares de Siqueira Bueno e José Alvares de Cerqueira Cesar à pág. 206 deste. Os Siqueira Buenos estão entre a 4a. e a 5a. geração do famoso Amador Bueno da Ribeira, o Aclamado.  

Novos textos no futuro.... 

Este é um brevíssimo resumo. Como uma boa história (e uma história de família), esta tem curiosidades, conquistas, gente famosa, gente desconhecida. Grandes feitos, traições e até crimes. Que este canal sirva para manter viva esta pesquisa. Se tiver algum leitor, já valeu a pena. 

Comentários

  1. Parabéns Ale. Só hoje vi seu email no site Sincronicidade e Expressão. Minha família atreves do casamento de minha bisavó Barbara se tornou herdeira de terreno à rua Siqueira Bueno, no Belém. E perdeu tudo. Aprecio demais a história da formação do nosso povo . Grata pelas luzes que está a nos trazer.

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    1. Legal Julia!!! Estou escrevendo os próximos artigos e se topar, em algum momento vamos contar a bela historia da sua Bisavó.

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  2. Olá! Tudo bom? Me chamo Bruno e sou pesquisador na Unifesp Guarulhos. Desde 2019, estou desenvolvendo um projeto de pesquisa sobre a história do português paulista, em específico, do português escrito por intelectuais nascidos em Guarulhos no século XIX. Dentre meus dados, selecionei os de Cerqueira César, Crispiniano Soares e, também, os de João de Siqueira Bueno. A pesquisa tem se mostrado difícil pois, para poder executá-la, preciso de documentos escritos por essas pessoas.

    Atualmente, possuo alguns documentos escritos por Crispiniano Soares, pouquíssimos de Cerqueira César (tive até de viajar para Rio Claro a procura de documentos relevantes, mas não achei muita coisa...) e quase nenhum documento de Siqueira Bueno.

    Te escrevo para, caso você se interesse e puder, compartilhar algo de suas pesquisas, sobretudo no que diz respeito ao acesso a documentos escritos por esses intelectuais. Seria de grande ajuda, também, se você pudesse me informar sobre outros intelectuais guarulhenses relevantes ao cenário político da São Paulo do século XIX.

    Se puder, me escreva em alguns desses emails para conversarmos sobre (bruno.tavares5846@gmail.com/bruno.tavares@unifesp.br). Posso, também, compartilhar o projeto de pesquisa (que, atualmente, já possui protocolo no Comitê de Pesquisa e Ética da Unifesp e, também, está aguardando resultado da submissão de bolsa.

    Um abraço,
    Bruno.

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    1. Bruno, que pesquisa legal e corajosa. Parabéns!!! São Paulo no século XIX tinha uma dinâmica fascinante e já estou curioso para ver os resultados do seu trabalho.
      João Bueno não deixou descendentes dos seus dois casamentos o que pode ter feito com que alguns documentos pessoais tenham se perdido, mesmo assim vou te passar por e-mail algumas sugestões de pesquisa que podem te dar ideias de como encontrar estes documentos.

      Abraço!

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    2. Ale, boa tarde. Meu nome é Carlos Fabbri D'Avila. Eu e o meu amigo Márcio Perez estamos desenvolvendo um estudo voltado a realização de um podcast, e o seu trabalho nos interessou muito, pois nossa análise abrange a história de Guarulhos, e a sua família é uma importante parte dela. Se possível poderia encaminhar o seu contato para o meu e-mail pessoal carlosfd111@hotmail.com para tentarmos conversar?

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    3. @Carlos, vai ser um prazer contribuir. Vou te mandar um email para falarmos. Abraço.

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  3. Acabo de acessar seu blog. Parabéns pelo empenho. Sou apaixonada pela História de São Paulo e os processos imigratórios para formação dessa grande metrópole. Veja minha resposta ao seu email.
    Parabéns.

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João Álvares de Siqueira Bueno

 A vida a partir da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição João Álvares de Siqueira Bueno e sua esposa Henriqueta, em foto de 4 de junho 1904 (RANALI) João Álvares de Siqueira Bueno, também conhecido como João Bueno, foi um importante político paulista do final do século XIX e início do século XX. Nascido na Aldeia de Nossa Senhora da Conceição, em 2 de julho de 1834, João Bueno foi primo de outros importantes políticos da época, como Antonio José de Siqueira Bueno, Vicente Ferreira de Siqueira Bueno e José Alves de Cerqueira Cesar. ( Silva Leme, Luiz Gonzaga (1905).  Genealogia Paulistana . [S.l.]: Duprat Comp )   João Bueno casou-se duas vezes, a primeira com Henriqueta Paulina de Siqueira Bueno por volta de 1860, e a segunda com Deolinda Ramos Bueno, em 1903. Deolinda, nascida no bairro de Bonsucesso, foi a sobrinha de João e foi homenageada com o nome da Rua Deolinda Ramos Bueno, no Bairro de Bonsucesso, em Guarulhos. João Bueno não teve filhos.   Além de sua atuação política

A Primeira Geração Siqueira Bueno

A família Siqueira Bueno, que foi conhecida pela participação política em São Paulo e Guarulhos no século XIX, teve a sua primeira geração, com este sobrenome, formada no final do século XVIII, na união dos descendentes dos Bueno da Ribeira com Siqueira Mendonça, na freguesia de Conceição dos Guarulhos. Mas seria muito simples identificar o momento exato que ocorreu a cola destes sobrenomes, sem avaliar a riqueza de parentescos que constroem o contexto histórico e sua bagagem emotiva e cultural. Isso sem dizer sobre a abertura de um leque fantástico de pessoas interessantíssimas que não tinham relação sanguínea, mas que foram contemporâneas e não menos importantes para este período, no Estado de São Paulo.   Aldeia dos Guarulhos É evidente que o objetivo nesta crônica é demonstrar a primeira geração que carrega este sobrenome, mas não podemos deixar de voltar quase 200 anos antes do encontro familiar para mencionar o que acontecia para os “ lados de Mogi ”, “ perto da Aldeia do